terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

 

Pressinto-te, morte

 
Pressinto-te Morte, em espasmos de pranto,
Numa dor que sangra em fogo
Pesado, que m’esventra
E insuportavelmente m’alegra
Na chegada tranquila,
Em passos que ceifam almas
À passagem, e avança lenta
Na minha direcção.

(ah meu amado, se viesses ainda
a tempo da salvação
com lábios de feiticeiro)

Sou corpo aniquilado
Com alma que jaz, oculta
Entre promessas de amor eterno,
E já moribunda, pronuncio
Teu nome e rogo-te afincadamente
Que me leves daqui,
Onde a vida m’esbofeteia
Em cada esquina
Sem lágrimas nem contemplações.

(e como as trevas são tão mais belas
e mais puras que a imundice
com que teus olhos m’enxergam)

Sorrirás perante a visão do cadáver
Em misto de alívio e conforto,
Num contentamento sublime
E merecedor, e a respiração
Segura caminhará nas portas
Do poema, escancaradas em ouro
Puro, para te receber
Com vénias serviçais.
 
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UM FIM ESTÁ PRÓXIMO...

 
UM FIM ESTÁ PRÓXIMO...

Esse planeta circula fendido.

Ao meio dessa oca esfera
Quebra-a um portal equatorial intenso
Que, magnético, balança minha rede
E me sacode para pensar
Sobre essa fratura toda
Que deve ser a mesma de mil anos atrás
Nas ruas compridas de Constantinopla...

Tremores semânticos subscrevem-me
Mensagens sem rendição
Em versejos românticos
Recebo-os, desiludido, em docidão...

Esse embalo tântrico
Instiga-me à uma alucinante massagem
Numa clara violação de saciedade...

Quem diria
:Agora é tempo
De eu acolher
No pensamento
Essas vagabundagens...

De tão perdido de ti
Nesta terra resolvida à ruptura
Encaro a saudade de me derreter
Em teus seios plácidos e sadios
Quando isso era o tudo
Do tudo o que tinha de ser...

Eu lembro
:De resto eram toques e sorrisos...
:De resto eram beijos e desvarios...
:De resto, o resto
Do que ficou mesmo perdido
Do resquício do mais a me aborrecer...

Edifico
Um final feliz
Só para mim...
Desprende-se um sabor
Terrífico...

Manso, sem improviso
Reclamo por teu resgate
Impossível, mágico
Caído d’um teu
Dossel impreciso...

Olho o futuro
Com furor cego.
Estranho
:Nego-o e entrego-me...

Abraço-me só,
Ao ar, de braços erguidos
(Faço por merecer)

O fim está próximo.
(Um qualquer fim
Sempre está próximo)

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 AFIANÇO!


Que o Poeta está triste hoje
Poesia prestes a morrer em si
Pouco lhe resta a vida foge
Cansou de chegar até aqui.

Nega-lhe até o chão que pisa
Poesia prestes a morrer em si
Fecha-se a porta, a vida avisa
Aguenta, não sairás mais daqui.

Chegou ao alto da montanha
Sonolento, constrangido, ali
Onde fui arranjar força tamanha?
Pergunta o Poeta de si para si.

Ao seu encontro veio a saudade
Olhou para tras, ninguém era ali
O mundo o desprende com facilidade
Perpétua, só a Poesia nascida de si.

Agora nada mais existe que o vazio
Fica condenado a gritar só para si
Morrer não, a vida está por um fio?!
Pensa:
Porquê?!Se tudo dei e nada recebi.

rosafogo

Pequenos desassossegos dum poeta.
 
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Início e o fim de uma vaga eternidade

 
início e o fim de uma vaga eternidade
 
há sempre um princípio e um fim
um olá a uma vida pela primeira vez
e um adeus a despedir-se de mim
uma morte que chega com lividez

adeus… addio… adieu… adiéos…
é por do sol a morrer no horizonte
no princípio da noite a nascer a jusante
e a génese a trazer consigo um adeus

e tu que vieste do meu coração – adeus
parte sempre alguém em alguma parte
para gerar um novo mistério de deus

volátil vida a deixar qualquer saudade
sonhos passados que foram meus e teus
o início e o fim de uma vaga eternidade


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