domingo, 11 de março de 2012

ainda veja que ela me espreita!

Death Comes (Soneto)

Death Comes  (Soneto)
Na morte propriamente não há o pudor,
Quando ela chega, não trava, ela avassala,
Teu império em ruínas, na tua sala,
Na cama, no carro, teu rosto já sem cor.

Na morte propriamente, veja, não há dor,
Teu corpo paralisa, imóvel, te empala,
Lágrimas cairão em teu corpo na vala,
Na terra, então se cala, o teu tumor.

Come Death! Da sombra, venha, se esgueira, do vão,
Onde escorrem as almas da tua alva mão.
Death comes em Bandeira, Bocage, o professor.

Come Death! De árias funerais com seus prantos,
Reverbera teus plácidos negros encantos.
Death comes e enche o meu coração de horror.

"Poesia é alimento da minh'alma"


A Morte Absoluta
 Manuel Bandeira


Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

 

Profundamente Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamentev Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.


Manuel Bandeira

Noite Morta
Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.

Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.

No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.

O córrego chora.
A voz da noite...
(Não desta noite, mas de outra maior.)


Manuel Bandeira


Desafio de Viver

Desafio de Viver
 Que a morte não seja representada
 pela imagem de uma bruxa megera.
 Que o nosso contínuo amadurecimento
 faço-nos reconhecê-la,
 no futuro, como bela ninfa.
 Que não seja uma imensa muralha,
 que não seja uma grande barreira,
 um enorme obstáculo,
 mas seja convertida em indescritível portal
 para o infinito céu,
 onde veleja a nau da existência.
 Seja imagem distante
 que nos faça esquecer
 as cartas marcadas
 com que o destino nos ameaça.
 Que, fugitivos da predestinação,
 passemos a crer que a cada minuto
 tudo podemos mudar.
 E assim, quem sabe,
 nem a vida, nem a morte,
 longe dos pontos limítrofes,
 fugitivos do presente,
 libertos da intensa
 felicidade dos nascimentos,
 libertos dos torturantes
 traumas dos falecimentos.
 Sublimando a razão
 pelo batismo do conhecimento.
 Cegos, reconhecendo
 existirem dois planos.
 A visão do raciocínio,
 o olhar do pensamento
 que conclui o intuir,
 que cria o pressentir da ideia.
 Que o esclarecimento
 ilumine as sombras do medo,
 abandonando o sentir morrer a cada dia.
 Que ante o reconhecimento da eternidade
 cada instante seja
 apenas mais uma letra no livro da vida.
 E a vida terá vencido a morte.
 E a morte será apenas
 um estágio de mudança na vida eterna.



"Escrever é um encontro marcado com a própria alma."

Elisa gasperini

Outras de Gilberto Brandão Marcon:


A morte chega cedo

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.


Fernando Pessoa
 

A morte

A morte
A morte chega !...
Não escolhe o dia , nem a hora
Vem rápido ou de mansinho
Arranca do convívio , leva embora !...
Não prefere os ricos
Aos desvalidos
Não prefere os entendidos
Aos não sabidos
Não prefere os opressores
Aos oprimidos .
Nessa hora , todo mundo é igual
Não há os preferidos
Barreiras se rompem , distâncias se aproximam
Aqui não há favorecidos !.....
Mena Moreira
04/12/2005

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